COLUNA FACMA
04.ABR.2025
| A reflexão teoliterária na formação dos agentes da evangelização
O IV Teologia em Diálogo, da Faculdade Católica do Maranhão, realizado no dia 28 de março de 2025, teve como tema “Impactos da reflexão teoliterária na formação dos agentes da evangelização”, e foi conduzida por mim, professor Luís Freitas. O debate se deu em torno da interface teologia e literatura verificando-se principalmente seus pontos de aproximação.
Logo de imediato, poderíamos nos perguntar: há alguma relação entre teologia e literatura e, caso haja, quais as implicâncias de tal relação na formação dos agentes de evangelização? Para responder a essa questão, é preciso em primeiro lugar, ter mais clareza da especificidade do saber teológico e da expressão literária.
A teologia cristã é centrada na investigação aprimorada de caráter racional e científico sobre o Deus que se revela na história e seu mistério de salvação oferecido ao ser humano. A literatura, por sua vez, situa-se no âmbito artístico, pois sua matéria-prima é a palavra empregada esteticamente para representar o mundo e o homem com tudo aquilo que o envolve. Trata-se de uma recriação verbal por meio da imaginação e da capacidade criadora do artista, sempre mantendo correspondência com o mundo real o que costumamos chamar de verossimilhança.
Mas quais seriam as afinidades entre as duas áreas, já que uma se constitui como saber racional científico, enquanto a outra é uma criação artística permeada de figuração e subjetividade? Um olhar atencioso, porém, é capaz de observar que entre as duas áreas há profundas relações atestadas por teólogos entre os quais Hervé Rousseau, Antonio Manzatto e Maria Clara Bingemer.
Hervé Rousseau pontua que a importância teológica de uma obra literária não se dá apenas pela especulação dogmática, mas principalmente pela problemática humana e cultural abordada no texto. Na mesma direção, o teólogo Antonio Manzatto ressalta que, embora a teologia seja ciência expressa por meio de conceitos objetivos e a literatura seja expressão estética manifestada por símbolos e imagens, elas têm em comum a realidade antropológica, ou seja, a existência humana e seu anseio de transcendência.
A teóloga Maria Clara Bingemer destaca dois elementos imprescindíveis que aproximam teologia e literatura: a inspiração e a palavra. Isso porque tanto a teologia com seus profetas, hagiógrafos e místicos, como a literatura com seus poetas e escritores são frutos de uma inspiração espiritual. A palavra também se faz presente nos dois saberes, pois o discurso teológico e a expressão artística a têm como matéria-prima fundamental.
Os agentes da evangelização, sejam do ministério ordenado ou do laicato, têm a missão de proclamar a Boa-Nova de Jesus Cristo para suscitar a conversão pessoal e comunitária. O anúncio explícito se realiza, sobretudo, por meio da linguagem verbal que deve ser compreendida pelos destinatários da mensagem. Desse modo, tais agentes além de conhecerem bem o conteúdo teológico a ser transmitido, também precisam de conhecimento acerca do chão das culturas onde vivem os interlocutores do anúncio. A literatura, por ser representação da vida humana, favorece o evangelizador nesse conhecimento cultural.
Desse modo, a literatura pode ser uma grande parceira na atividade da evangelização dando-lhe enorme contributo. Papa Francisco, na sua carta sobre o papel da literatura na educação, expressa que a arte literária nos ajuda a mergulhar de modo profundo na própria existência, sendo ainda indispensável para o diálogo com a cultura e a vida das pessoas de nossa época. O pontífice ressalta que a literatura pode tornar os agentes da evangelização mais sensíveis à plena humanidade de Cristo, na qual se derrama sua divindade.
Assim, concluo afirmando que a reflexão teoliterária é oportuna e necessária nos tempos atuais. Tal reflexão propicia o diálogo teologia e literatura através do qual os agentes da evangelização podem motivar-se a conhecerem bem os conteúdos teológicos essenciais à missão evangelizadora e, ao mesmo tempo, sentirem-se impelidos a traduzir as verdades evangélicas e doutrinais na vida cotidiana marcada pelas suas alegrias e dores, sofrimentos e esperança. Além disso, à medida que vivenciam os valores cristãos na comunidade dando testemunho deles, também podem levar essa mensagem salvífica a outros que não a conhecem sempre em atitude de acolhimento e acompanhamento afetivo e fraterno.
Autor:
freitas@facmaedu.com.br
