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As CEBs como Sinal de Esperança

As CEBs como Sinal de Esperança
À medida que mergulhamos no Jubileu da Esperança, proclamado pelo Papa Francisco como um tempo de renovação espiritual, penso que torna-se essencial retomar a centralidade das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) como expressões vivas da fé encarnada no cotidiano do povo. As CEBs, surgidas com vigor na América Latina a partir das diretrizes do Concílio Vaticano II e impulsionadas pelas Conferências de Medellín (1968) e Puebla (1979), continuam sendo um caminho privilegiado para uma Igreja sinodal, pobre e voltada para os marginalizados.
As Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil (DGAE) reconhecem as CEBs como “experiências concretas de vivência comunitária da fé, fundamentadas na Palavra de Deus e na Eucaristia, com forte compromisso social” (DGAE 2019-2023, n. 101). Essa dimensão comunitária e profética está profundamente alinhada com a proposta do Jubileu da Esperança, que convida a Igreja a redescobrir a esperança cristã, não como sentimento vago, mas como força ativa de transformação.
Como lemos na Bula de proclamação do Jubileu, intitulado “Peregrinos da Esperança”, o Santo Padre destaca que “a esperança cristã não desilude, porque está enraizada na certeza do amor de Deus, que nos acompanha em todas as situações” (cf. Rm 5,5). Acredito que as CEBs vivem e testemunham essa esperança nas periferias urbanas e rurais, em meio às lutas por moradia, justiça e dignidade, mostrando que a Igreja pode ser presença solidária, fermento de vida e instrumento de libertação.
Mais do que estruturas organizacionais, cada vez me convenço que as CEBs são rostos, histórias, celebrações e partilhas. Elas revelam uma eclesiologia de comunhão que valoriza o protagonismo leigo, especialmente de mulheres, jovens e lideranças populares. Em um tempo marcado por crises políticas, sociais e ambientais, esse modelo eclesial se apresenta como uma resposta profética aos anseios do povo, especialmente dos que mais sofrem nesse mundo de meu Deus.
Portanto, eu considero que esse tempo de renovação espiritual não deve ser vivido apenas como uma celebração litúrgica, mas como um chamado à conversão pastoral. As CEBs já vivem essa conversão: são sementes do Reino, onde a esperança não é discurso, mas prática cotidiana, urge que a Igreja, em suas diversas instâncias, escute as vozes das CEBs, acolha suas experiências e caminhe com elas rumo a uma nova primavera eclesial. Retomar e valorizar essas comunidades é um gesto de fidelidade ao Evangelho e de compromisso com uma Igreja em saída, como tantas vezes exortou o Papa Francisco. Que o Jubileu da Esperança nos encontre “peregrinos da esperança”, mas também construtores de uma Igreja mais próxima, participativa e fiel aos pobres. As CEBs nos mostram que esse caminho não só é possível, como já está sendo trilhado.
Por Robert Breno Moura Carvalho
Discente do curso de Teologia da Faculdade Católica do Maranhão – FACMA

Onde está nossa esperança?
Nossa esperança está em Jesus Cristo. No Cristo que vive, no Cristo Ressuscitado. Essa verdade, anunciada por São Paulo (1Tm 1, 1), tomada pelos que creem, é de suma valia, pois abre nossos horizontes e alarga a vida de quem põem nisso a própria confiança, não caindo no engano, como bem pondera o apóstolo, “a esperança não engana” (Rm 5, 5). Papa Franciso, no início de sua bula Spes Non Confundit, destaca que Jesus Cristo é a nossa esperança. Aquele que vive e que é a mais “bela juventude deste mundo” (CV, n.1). É com esta motivação que o papa traz à tona as convicções da fé fazendo-nos perceber que Jesus, com a sua presença, nos oferece seu alívio, sua companhia (CV, n. 83), mediante nossa peregrinação nesta passagem terrena.
Mediante isso, sentir-se amado por Deus, ver em Jesus a própria esperança e salvação, como aquele que vive – o que o papa chamou de “o grande anúncio” – é indispensável. Com Jesus “não falta a esperança” (CV, n. 109). E assim, indica que “O amor de Deus e nossa relação com Cristo vivo, não nos privam de sonhar […]. Ao contrário, […] nos lança a uma vida melhor e mais bonita” (CV, n. 138). É a fé em Jesus, que nos conduz a uma esperança, afirma Francisco. Nesse sentido, insiste não somente aos jovens, mas a todos nós, para que não deixemos que roubem nossas esperanças e alegrias de ser e continuar sendo “protagonistas da mudança […] oferecendo uma resposta cristã às inquietudes sociais e políticas […] construtores do futuro, que se comprometam no trabalho por um mundo melhor” (CV, n. 174).
Convocando um Jubileu com o objetivo, como afirma na Bula Spes Non Confundit, de que “seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança” (2025, n. 1), pois sendo a vida feita de alegrias e sofrimentos, “o amor é posto à prova quando aumentam as dificuldades e a esperança parece desmoronar-se diante do sofrimento” (n. 4), neste ano de 2025, o Papa Francisco convoca toda a Igreja, a vivenciar o Jubileu da Esperança como um sinal profético e um olhar atento à realidade em que vivemos, buscando oferecer uma resposta de amor, pois é só através do amor que a esperança é vivificada. Nesse sentido, ele nos provoca a fixar os nossos olhos novamente naquele que é, deve ser, nossa esperança: Jesus Cristo, nosso Senhor, buscando transformar nossa maneira de viver, especialmente nas adversidades.
Essa esperança não é um simples otimismo, mas uma certeza firmada no fundamento do amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo. Portanto, penso que a esperança deve ser fonte de alimento para todos os dias, deve estar fundamentada em uma pessoa cujo ser é pleno, é humanizador. Esta perspectiva nos ajuda a nos tornarmos homens e mulheres imbuídos de uma força que nos impulsiona e nos liberta dos grilhões do medo de lutar para que a vida seja plenificada, vencendo as próprias limitações sociais, eclesiais ou pessoais, rumo à harmonia dos povos, à paz entre às nações, à felicidade completa.
Bem afirmava Francisco que é o Espírito Santo que irradia, no caminhar da Igreja, à luz da esperança. É o Espírito quem a mantêm viva em nós. Ela mesma não engana, não se deixa enganar, nem engana-se a si própria. Com efeito, nos dá a certeza de jamais nos apartarmos do amor divino. Essa esperança deve ser vivenciada, anunciada, mas sobretudo, sua alegria deve ser compartilhada. Que isso possa alcançar a todos.
André Silva dos Anjos, Licenciado em Filosofia pela FACMA.
Bacharelando em Teologia pela FACMA. E-mail: andre@iesma.edu.br.

Quais são os maiores desafios da missão hoje
A missão evangelizadora sempre foi uma tarefa extremamente importante e urgente da Igreja. Em cada período de evangelização, a Igreja enfrenta dificuldades e desafios específicos. Especialmente neste século, as dificuldades na evangelização não param de aumentar, apresentando novos desafios para a Igreja. Além disso, elas causam impactos severos, como fazer com que muitos se sintam desapontados com a Igreja e que muitos cristãos deixem de praticar a fé. Neste artigo, eu analisarei e destacarei os maiores desafios no trabalho missionário que enfrentamos hoje.
Em primeiro lugar, a Igreja está enfrentando um mundo secularizado. Isso é especialmente verdadeiro na Europa Ocidental e na Américas, onde o cristianismo tradicional perdeu seu valor na sociedade. A Ásia e a África também estão, dia a dia, seguindo por esse caminho de secularização. Em grande parte, isso se deve ao materialismo; os cristãos não conseguem resistir ao ceticismo e ao hedonismo, e há pouco espaço para Deus. Várias pessoas passaram por uma “crise de fé” e, como resultado, caíram em um estado de ceticismo e se tornaram seculares. Esta é também uma das razões pelas quais muitas ordens religiosas na Europa precisam fechar devido à falta de vocações. Estamos gravemente carentes de testemunhas que se atrevam a nadar contra a corrente para viver os valores do Evangelho através de suas vidas, não apenas com palavras; testemunhas que se atreva a aceitar o sofrimento, mas que ainda mantenham a alegria em seus rostos; testemunhas corajosas e dispostas a arriscar-se para levar o Evangelho aos lugares mais rejeitados e perigosos.
O segundo desafio é o diálogo inter-religioso e intercultural. Como podemos dialogar com os outros de maneira humilde e paciente para encontrar uma voz comum em uma sociedade que sempre respeita o ceticismo, o secularismo, o materialismo ou a intolerância religiosa? O Papa Paulo VI disse: “O diálogo é a nova maneira de ser Igreja.” Isso exige que os missionários superem o medo e o tabu para reconhecê-las corajosamente as diferenças teológicas, históricas e culturais, enquanto buscam e promovem os pontos em comum entre o cristianismo e outras religiões.
O terceiro desafio é enfrentar o rápido desenvolvimento da tecnologia. Nos últimos anos, a tecnologia alcançou conquistas extraordinárias, especialmente a inteligência artificial (IA), que está mudando toda a vida humana hoje. Nesse contexto, como os missionários podem se adaptar a essas mudanças sem ficar para trás? Como os missionários podem encontrar métodos de evangelização que sejam eficazes nas redes sociais, sem depender delas?
O quarto desafio é a reforma da Igreja, trazendo a Igreja de volta ao caminho que Jesus desejava. Essa questão está relacionada à missão da Igreja. Não podemos negar as grandes crises que a Igreja enfrentou no passado e que ainda afetam o presente: o Cisma Oriental (1054), a Reforma Protestante (1517), os casos de sacerdotes pedófilos (2000-2015). Esses problemas fazem com que muitas pessoas percam a fé e se sintam feridas pela Igreja. Como podemos encontrar um novo estilo para uma Igreja que acolhe a todos; uma Igreja mais simples; uma Igreja que reconheça corajosamente seus erros e se atreva a corrigi-los; uma Igreja que ajude uns aos outros a avançar rumo ao paraíso; uma Igreja que sempre tenha coragem para cumprir sua missão; uma Igreja com testemunhas vivas de esperança e uma Igreja que sempre ande confiante sob a orientação do Espírito Santo?
Por fim, proponho um questionamento: “O que o(a) missionário(a) de hoje pode fazer para ultrapassar o medo de ser diferente? “Que podemos fazer para que o anúncio de Jesus Cristo tenha uma repercussão sobre as pessoas de todas as camadas sociais? Como presentar Deus (felicidade, amor, fragilidade, que em Seu Filho morre na cruz) para as pessoas que vivem no mundo que oferece e pode quase tudo e sonham em não envelhecer e nem morrer?
Ir. Lâm Thị Ngọc Trâm
Religiosa missionária da Congregação Das Irmãs Missionárias Da Nossa Senhora Dos Anjos. Bacharelando em Teologia – FACMA. E-mail: ngoc@facmaedu.com.br

UM SINAL DE ESPERANÇA EM UM CENÁRIO DESAFIADOR
A sociedade vive uma decadência de valor moral, ético e do respeito mútuo. Na busca pelo “eu” ideal, os jovens estão perdendo a sua própria identidade, o sentido da vida, estão se perdendo de si mesmo. Dessa forma, presos no seu mundo, os jovens se tornam reféns de seus medos, de suas fraquezas, do egocentrismo, convivendo mais com um vazio interior levando-os a uma situação degradante de desesperança e morte.
Diante da vivência dos desafios inerentes à vida hodierna, o jovem é chamado a ser sinal de esperança, uma esperança fundamentada em uma pessoa cuja plenitude da existência se completa, a pessoa de Jesus Cristo. Para isso, é importante que eles assumam o papel de ser homens e mulheres imbuídos de uma força que os motiva a lutar e a superar o medo que os privam de viver uma liberdade cujo sentido plenificado se encontra em Deus.
O mundo precisa da juventude como construtores de uma sociedade mais justa, fraterna e esperançosa. Essa sociedade se constrói a partir do momento em que os jovens manchados pelo vazio interior, pelo individualismo, pela perca de identidade e pelo medo de lutar, se decidem encontrar com Cristo e assim passarão ressignificar o seu papel neste mundo. É preciso que os jovens vençam os próprios medos, as próprias limitações, buscando adentrar dentro de si mesmo e a superar as barreiras interiores, e extrair o melhor de si. É uma luta que cada jovem deve travar individualmente, mas com o auxílio do Espírito ‘Santo que o ajudará nessa luta mediante a abertura de coração e de espírito.
O encontro com Cristo não deve ser um encontro como o do senhor e seu servo, mas um encontro de amigos íntimos em que o jovem possa partilhar no dia a dia, os seus sonhos, suas fraquezas, seus medos e assim, por meio da oração, sentir o abraço e a orientação desse amigo que tantas vezes se faz presente. Essa amizade deve ser contínua, de encontros de pessoas que se conhecem, assim, os jovens vão sentindo cada vez mais a força transformadora do amor que vem Cristo, e vão se afeiçoando a ele, transformando o medo em coragem, a depressão em força, o orgulho em amor, para ser sinal de renovação e de esperança para outras pessoas, acreditando, assim, numa sociedade melhor.
Destarte, na experiência da amizade, os jovens crescem no sentido de fidelidade, cuidado, solidariedade, tolerância, paciência, atenção às necessidades uns dos outros. A amizade é um dos mais significativos produtos da maturidade humana. Ela promove o intercâmbio de riquezas pessoais e possibilita reforçar competências sociais e relacionais. A vivência de grupo constitui um grande recurso para a partilha da fé, e ajuda mútua. Por isso, acredito que em resposta a toda essa situação de morte e fragilidade da sociedade, o jovem, deve ser um sinal autêntico de uma esperança renovadora e impactante para outros jovens, e demonstrar por meio de ações concretas que vale a pena colocar o sentido dos porquês da vida na pessoa de Cristo, pois ele vai moldando paulatinamente as respostas que a juventude necessita. Desse modo, se tornem protagonista de um mundo humanizado, fraterno e esperançoso.
Por, Dione Silva Teixeira

As margens da Esperança
Vivemos tempos desafiadores e, por vezes, a esperança parece rara nos discursos públicos. Não por acaso, fico pensando em como essa virtude teologal renasce nos lugares menos óbvios: nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Para mim, a vida simples dessas
comunidades nos bairros e nos campos revela o Evangelho na carne, traduzindo o amor de Deus no cuidado mútuo. Neste ano do Jubileu de 2025, em que peregrinamos como povo de Deus cheio de esperanças renovadas, sinto a urgência de afirmar que as CEBs trazem lições
fundamentais. Defendo convictamente que as CEBs continuam a ser um dos sinais mais vividos do Evangelho encarnado nas realidades mais sofridas.
Muitos se perguntam se ainda há lugar para as CEBs hoje. De fato, a vida social e eclesial mudou muito desde as primeiras bases, e algumas comunidades se dissolveram ou perderam apoio pastoral. Mas me convenço de que essa visão nostálgica não se aplica completamente: em diversas periferias urbanas e rurais elas seguem resistentes e ativas e são comunidades onde a fé caminha junto da luta por dignidade: grupos de leitura bíblica discutem questões concretas, romarias e mutirões fortalecem laços, e a caridade acontece sem alarde. Vejo nelas uma Igreja em saída, como sonhou o Papa Francisco, presente nos lugares de dor e rejeição; e mesmo que não apareçam nas manchetes, continuam sendo um dos traços mais dinâmicos e proféticos da vida eclesial brasileira.
Mas afinal, o que significa viver a esperança nessas comunidades? Na minha concepção, é testemunhar a certeza da presença de Deus em meio às dificuldades concretas do povo. Nas CEBs, a Palavra de Deus não fica apagada nos livros: ela se encarna em cada gesto
de solidariedade. Quando famílias repartem o pão num mutirão, quando uma roda de conversa transforma queixas em projetos de mudança, ouço o Cristo ressuscitado dizer que não estamos sozinhos. Podemos afirmar com toda confiança: esperança cristã vive no método das bases,
ver a injustiça, julgá-la à luz do Evangelho, e agir em favor da vida. Essa espiritualidade libertadora torna palpável a confiança de que Deus caminha conosco, especialmente no corpo dos pobres.
Agora, no horizonte do Jubileu de 2025, tudo isso ganha contornos de missão renovada. O Papa Francisco convoca a Igreja a ser peregrina da esperança neste Ano Santo da Encarnação, enfatizando gestos de perdão, solidariedade e justiça social. Penso que as CEBs já vivem esse espírito de jubileu cotidianamente: perdoam ofensas históricas, repartem recursos escassos e gritam por liberdade em vez de morte. Neste momento único, a Igreja deveria ouvir o clamor dessas bases e permitir que o jubileu não seja apenas cerimônia em catedrais, mas transformação em cada aldeia e favela. De fato, os jovens, os pobres e os pequenos líderes dessas comunidades podem reacender em nós o compromisso pastoral renovado, pois a Boa Nova se faz vida concreta nos seus sofrimentos e lutas.
Ao concluir esta reflexão, reafirmo com convicção: a esperança cristã renasce nos pés descalços das CEBs. É ali, no chão da vida, que o Evangelho deixa de ser apenas letra proclamada para tornar-se gesto, partilha, organização e profecia. As CEBs continuam sendo sinal vivo de que o Reino de Deus se constrói no meio do povo, com os pequenos e esquecidos, na resistência cotidiana contra as estruturas de morte. Nesse testemunho encarnado, vemos o verdadeiro Jubileu acontecer: caridade que se traduz em solidariedade concreta, conversão que nos tira do comodismo e nos lança ao encontro do outro, e comunhão que costura redes de apoio e de fé.
Vinícius Santana de Castro

ESPERANÇA URGENTE: POR QUE O JUBILEU DE 2025 É UM GRITO DE RESISTÊNCIA ESPIRITUAL E SOCIAL
Por. Rodrigo Sousa Pereira
Vivemos tempos marcados por angústia, aceleração e descrença. A esperança, antes força vital, tornou-se frágil e quase decorativa, diluída em
discursos vazios. Nesse contexto, o Papa Francisco propõe, por meio da bula Spes Non Confundit, um gesto ousado e contra a corrente: recuperar a esperança como caminho de transformação pessoal, social e espiritual. O Jubileu de 2025 é apresentado como um tempo especial para reconectar-se com o essencial da humanidade, resgatar horizontes e redescobrir o sentido da existência. A bula não é um texto reservado a religiosos. É um apelo universal, que atravessa credos e fala a todos os que experimentam o vazio, o cansaço e a perda de rumo. Francisco apresenta a esperança não como ilusão ou fuga, mas como resistência ativa à lógica da indiferença e do egoísmo. Trata-se de um manifesto que denuncia o colapso do espírito humano diante da pressa e propõe uma saída: reaprender a esperar e agir com sentido.
Para Francisco, esperança é verbo, não substantivo. A citação de Paulo (“Spes non confundit” — a esperança não engana) orienta a proposta da bula: viver a esperança como ação concreta. Contra a lógica do imediatismo e do desespero silencioso, o Papa convida todos — inclusive não crentes — a reencontrar o horizonte. O Ano Santo da Esperança é apresentado como pausa corajosa para repensar os valores que regem nossas vidas e sociedades.
A indiferença é denunciada como veneno que corrói o tecido social. O abandono dos pobres, migrantes, idosos e jovens é citado como sinal da falência de um sistema que desumaniza. Francisco convoca não só fiéis, mas líderes políticos, econômicos e culturais a assumir a esperança como compromisso. Ela não pode ser privilégio de poucos — precisa alcançar os mais feridos da sociedade. Quando não toca os esquecidos, a esperança vira ilusão.
A força da proposta do Jubileu de 2025 está em seu alcance concreto e simbólico. Ao abordar os dramas dos jovens e idosos, o Papa mostra como a esperança exige memória e futuro. Jovens sem propósito e idosos sem voz revelam uma sociedade desconectada de si mesma. Outro ponto central é o clamor pela paz.
O Papa se posiciona de forma contundente contra as guerras e o comércio de armas, apontando a indiferença como inimiga direta da esperança. Ele denuncia a neutralidade diante do sofrimento como cúmplice da violência.
A proposta de abrir Portas Santas nas prisões, por exemplo, mostra que a esperança cristã não exclui, mas inclui radicalmente os marginalizados. As obras de misericórdia são resgatadas como práticas de esperança com poder real de mudar o
mundo. Visitar, cuidar, consolar — ações muitas vezes vistas como pequenas — são, na verdade, a base de um futuro mais justo e solidário. A esperança se materializa no amor ativo.
Francisco encerra sua bula com uma frase síntese: “Que a esperança se torne contagiosa.” O Jubileu de 2025 é apresentado como um convite à conversão coletiva, não apenas litúrgica, mas civilizacional. A Igreja propõe à humanidade uma ruptura com a lógica do lucro, da pressa e da solidão. Esperança, aqui, é fermento social, é força que se multiplica, é responsabilidade compartilhada.
Mais do que um evento religioso, o Jubileu se torna um grito profético: se não voltarmos a sonhar, perdoar, caminhar juntos e cuidar uns dos outros, estaremos fadados a repetir os erros que nos trouxeram ao colapso espiritual e social. A esperança exige compromisso. Como diz Francisco, “esperar não é esperar parado” — é mover-se.

A VIVÊNCIA DA ESPERANÇA NAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
Robert Breno Moura Carvalho; Vinícius Santana de Castro
RESUMO
Esta pesquisa tem a finalidade de explorar a vivência da esperança nas Comunidades Eclesiais de Bases (CEBs) no contexto do jubileu ordinário do ano de 2025, destacando a importância da fé e da devoção como fonte de esperança e dinamismo. Partindo de uma reflexão de caráter bibliográfico, busca-se compreender como as CEBs vivenciam a esperança na fé e contribuem para a renovação da Igreja. Estudos mostram que as CEBs são comunidades que vivenciam a esperança de forma concreta na sua espiritualidade e no seu cotidiano na construção de uma sociedade mais justo e com direitos iguais. Nesse sentido, a fé das CEBs é caracterizada por uma forte expressão de confiança, zelo e atenção à novidade do evangelho como autênticos testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. O jubileu 2025 é uma ocasião oportuna para às CEBs renovarem seu chamado ao discipulado de Nosso Senhor Jesus Cristo, única esperança. A pesquisa também destaca, que neste ano jubilar as CEBs são chamadas ainda a serem sinais visíveis de acolhimento, apoio e solidariedade, onde os membros possam encontrar esperança e conforto em meios aos desafios da vida.
Palavras – chaves: CEBS; esperança; fé; jubileu; renovação.
1 INTRODUÇÃO
As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) representam uma das expressões mais genuínas da presença da Igreja junto aos pobres e marginalizados da América Latina. Nascidas a partir das mudanças impulsionadas pelo Concílio Vaticano II e fortalecidas pelas conferências episcopais de Medellín (1968) e Puebla (1979), as CEBs assumem a missão de tornar a fé cristã uma realidade concreta no cotidiano do povo. Organizadas em pequenas comunidades, fundamentadas na escuta da Palavra de Deus, na celebração da fé e no compromisso social, as CEBs expressam a Igreja como povo de Deus em peregrinação histórica, inserida nas alegrias e sofrimentos da humanidade.
O Jubileu Ordinário de 2025, convocado pelo Papa Francisco com o tema “Peregrinos da Esperança”, oferece uma oportunidade especial para refletir sobre o significado da esperança cristã nas CEBs. Em tempos de sofrimento, violência e exclusão, a esperança se torna um dos pilares fundamentais dessas comunidades, não como uma expectativa abstrata, mas como uma força ativa que inspira mudanças concretas na vida dos indivíduos e nas estruturas sociais. O Jubileu, na tradição da Igreja, é um tempo de renovação espiritual, de conversão e de reconciliação. Para as CEBs, representa um momento de fortalecer a missão de serem sinais visíveis do Reino de Deus no mundo, especialmente nos contextos mais desafiadores e esquecidos. Este Ano Santo será uma ocasião para que as CEBs reafirmem seu compromisso com os pobres e reavivem seu ardor missionário, engajando-se ainda mais nas lutas por justiça, dignidade e paz.
A esperança vivida nas CEBs vai além da visão tradicional de um futuro escatológico e distante; ela se expressa de maneira encarnada e concreta. A esperança nas CEBs é uma força que se revela em ações práticas de solidariedade, na promoção da justiça e no serviço aos mais empobrecidos e marginalizados. Essa esperança se alimenta da memória do Cristo crucificado e ressuscitado, que é lembrado e celebrado como a fonte de toda a vida e transformação. Assim, as CEBs se tornam testemunhas de uma fé viva, em que a confiança no Deus da vida é traduzida em ações cotidianas que buscam construir um mundo mais justo e fraterno. O Jubileu de 2025, portanto, não é apenas um tempo de celebração, mas um momento propício para refletir sobre o papel das CEBs na atualidade e para renovar o compromisso de caminhar junto aos que mais sofrem, sendo, assim, verdadeiros “Peregrinos da Esperança”. Nesse sentido, o caminhar dessas comunidades acentua fortemente a Igreja Sinodal que Francisco tanto destacou durante seu pontificado. Neste espírito o jubileu uma oportunidade de conversão pastoral e de renovação do ardor missionário.
2 A ESPERANÇA CRISTÃ NAS COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE
A esperança cristã, enquanto virtude teologal, ocupa um lugar central na vida das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Nas CEBs, ela não é um conceito abstrato ou uma expectativa vazia, mas uma força que impulsiona, molda e orienta a prática cristã de maneira concreta. A esperança cristã se revela na ação, no compromisso com a vida cotidiana e nas lutas por justiça, paz e dignidade. Para as CEBs, a esperança é uma força transformadora que não apenas aguarda um futuro melhor, mas também impulsiona uma ação imediata e concreta no mundo. Papa Francisco diz:
A esperança forma, juntamente com a fé e a caridade, o tríptico das «virtudes teologais», que exprimem a essência da vida cristã (cf. 1 Cor 13, 13; 1 Ts 1, 3). No dinamismo indivisível das três, a esperança é a virtude que imprime, por assim dizer, a orientação, indicando a direção e a finalidade da existência crente. Por isso, o apóstolo Paulo convida-nos a ser «alegres na esperança, pacientes na tribulação, perseverantes na oração» (Rm 12, 12). Assim deve ser; precisamos de transbordar de esperança (cf. Rm 15, 13) para testemunhar de modo credível e atraente a fé e o amor que trazemos no coração; para que a fé seja jubilosa, a caridade entusiasta; para que cada um seja capaz de oferecer ao menos um sorriso, um gesto de amizade, um olhar fraterno, uma escuta sincera, um serviço gratuito, sabendo que, no Espírito de Jesus, isso pode tornar-se uma semente fecunda de esperança para quem o recebe. (Francisco, 2024, n. 18)
Esta afirmação ressoou profundamente no coração das CEBs, pois elas vivem a fé não como um simples assentimento de doutrinas, mas como um movimento de transformação social, um compromisso com os excluídos e marginalizados. A esperança das CEBs se alimenta da experiência viva de um Deus que caminha com os pobres, um Deus que se faz presente nas realidades mais difíceis e desafiadoras.
A espiritualidade das CEBs está firmada nessa esperança ativa, que envolve os membros da comunidade em processos de transformação pessoal e coletiva, de reflexão e de ação missionária. A esperança não se limita a uma visão sobre o futuro ou a uma espera passiva. Pelo contrário, ela se manifesta em ações concretas de solidariedade, na luta por justiça e no cuidado com os mais necessitados. Leonardo Boff (1986) nos lembra que “A fé que não se traduz em amor concreto e em compromisso com a vida dos pobres é uma fé morta”. Nas CEBs, essa fé viva se expressa no serviço ao próximo e na busca constante por um mundo mais justo.
A esperança nas CEBs é alimentada pela memória do Cristo morto e ressuscitado, que não se detém diante das dificuldades, mas vai adiante, confiando no poder de Deus para transformar a história. A Páscoa de Cristo é o modelo de esperança cristã, uma esperança que nasce da cruz, mas que é vivificada na ressurreição. O sofrimento e a morte de Cristo, longe de serem eventos sem transformação, mas são acontecimentos que inauguram a
possibilidade de um novo futuro, uma nova humanidade.
3 A ESPIRITUALIDADE ESPERANÇOSA DAS CEBS
A espiritualidade das Comunidades Eclesiais de Base é fortemente enraizada na experiência de fé vivida a partir da realidade concreta do povo. A vivência da fé, nas CEBs, é inseparável da solidariedade, da justiça e do cuidado com os pobres e excluídos. Essa dimensão já foi amplamente reconhecida pelo Documento de Aparecida, que afirma:
De nossa fé em Cristo nasce também a solidariedade como atitude permanente de encontro, irmandade e serviço. Ela há de se manifestar em opções e gestos visíveis, principalmente na defesa da vida e dos direitos dos mais vulneráveis e excluídos, e no permanente acompanhamento em seus esforços por serem sujeitos de mudança e de transformação de sua situação. O serviço de caridade da Igreja entre os pobres “é um campo de atividade que caracteriza de maneira decisiva a vida cristã, o estilo eclesial e a programação pastoral” (CELAM, 2007, p. 178)
Essa espiritualidade vivida nas CEBs articula fé e vida de forma inseparável, criando comunidades onde a oração, o serviço e a missão andam juntos. A esperança não é apenas sentimento interior, mas motor de transformação social. Essas comunidades alimentadas pela escuta da Palavra de Deus e pelo compromisso com a realidade do povo, tornam-se expressão concreta de uma fé encarnada, que denuncia as estruturas de pecado e anuncia o Reino de Deus já presente entre nós.
As CEBs assumem, portanto, um papel profético no interior da Igreja, lembrando-a de sua vocação original: estar com os pobres, servir com humildade e ser sinal de comunhão. Nelas, a missão não é delegada a poucos, mas compartilhada por todos, conforme os dons e serviços de cada um. O protagonismo leigo, especialmente das mulheres, se destaca como traço marcante e desafiador para toda a Igreja, que ainda caminha rumo a uma efetiva corresponsabilidade.
Diante dos desafios contemporâneos como o aumento da desigualdade social, a violência estrutural e a crise ambiental a espiritualidade das CEBs se revela ainda mais necessária e atual. Sua força está em cultivar, no meio do sofrimento, uma esperança que não nega a realidade, mas a transforma a partir da fé ativa e da solidariedade concreta. Essa espiritualidade é feita de gestos cotidianos de cuidado, de escuta mútua, de resistência e de celebração da vida. Ela alimenta a convicção de que o Reino de Deus se constrói também nas pequenas ações e nas relações fraternas. Em tempos marcados por desesperança e indiferença, as CEBs continuam sendo uma resposta evangélica, com sua presença próxima, seu compromisso político e sua fidelidade ao povo. Renovar essa espiritualidade é garantir que a esperança não seja apenas discurso, mas prática concreta no seio da Igreja e da sociedade.
4 CEBS: ECOLA DE ESPERANÇA ENCARNADA
As Comunidades Eclesiais de Base não apenas falam de esperança elas a ensinam e a praticam em cada gesto comunitário, em cada celebração simples, em cada decisão tomada em assembleia. Por isso, podem ser chamadas, com propriedade, de escolas de esperança encarnada, pois seu método eclesial forma sujeitos comprometidos com a transformação da realidade à luz da fé. Nelas, a esperança não é um ideal distante, mas se concretiza na partilha, na solidariedade e na resistência diante da injustiça. Elas encarnaram em suas vidas aquilo que Papa Francisco afirmava:
Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. (Francisco, p. 41)
Uma Igreja em saída é isto: levar a chama da esperança para aqueles que estão desanimados, isto é o sabor do Evangelho e Jesus e a Esperança que não decepciona. Elas expressam, de maneira privilegiada, o que o Papa Francisco propõe ao falar de uma “Igreja em saída”: uma Igreja que rompe com o comodismo das estruturas fechadas e se coloca em movimento em direção aos mais pobres, aos excluídos e às periferias. Nelas, a esperança não se restringe ao interior dos templos, mas se projeta nas ruas, nos bairros, nos campos e nas lutas do povo. Trata-se de uma esperança que não espera de braços cruzados, mas caminha junto com os que sofrem, denuncia as injustiças e anuncia alternativas de vida. As comunidades de base assumem essa missão com simplicidade e coragem, mostrando que é possível viver uma fé que transforma a realidade e alimenta, na prática, o sonho de um mundo mais justo e fraterno.
Ao optar por uma Igreja em saída, as CEBs colocam a esperança em movimento. Elas não se limitam a oferecer consolo espiritual, mas atuam como presença concreta de solidariedade, resistência e profecia nos territórios marcados pela dor e pela exclusão. Frei Betto (1991) define a CEBS da seguinte forma:
São comunidades porque as pessoas se conhecem pelo nome, partilham suas vidas e seus problemas, põem em comum seus bens e seus esforços, lutam juntos por melhorias no bairro, conquista da terra e moaradias, uma vida melhor. São eclesiais porque o eixo em torno no qual giram é a palavra de Deus […]. São de base porque integradas por subempregados, aposentados, jovens, lavradores, operários, donas de casa, enfim, gente pobre e oprimida que forma a base da sociedade. (Betto, 1991, p. 152)
Sua prática evangelizadora nasce da escuta atenta das realidades locais e se traduz em ações que promovem dignidade, participação e comunhão. Nessas comunidades, a esperança é cultivada no rosto do outro, na partilha do pão, na defesa da terra e dos direitos. Assim, as CEBs encarnam uma esperança ativa, que aponta para o Reino de Deus não como uma promessa distante, mas como uma semente já lançada no solo da história é uma semente que cresce, mesmo em meio às dificuldades, porque é regada com fé, compromisso e amor concreto ao próximo.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A vivência da fé nas Comunidades Eclesiais de Base revela-se como uma experiência profunda e transformadora, que ultrapassa os limites do mero ritual para se traduzir em compromisso concreto com a vida, a justiça e a solidariedade. Nas CEBs, a fé não é uma realidade isolada ou abstrata, mas uma força viva que ilumina a caminhada dos seus membros, impulsionando-os a construir uma sociedade mais humana e fraterna. Essa fé encarnada se manifesta em práticas comunitárias, na escuta da Palavra, na participação ativa e no serviço aos mais pobres, tornando as CEBs verdadeiros laboratórios de esperança e renovação para a Igreja e para o mundo.
Pessoalmente, ao refletir sobre a força dessas comunidades, sinto-me inspirado pela coragem e pela fé simples e profunda de seus membros, que mesmo diante das dificuldades permanecem firmes na esperança. Essa experiência me desafia a pensar a fé não apenas como crença, mas como uma atitude de vida que nos chama a ser presença concreta no mundo, especialmente junto aos que mais necessitam. É nesse encontro com a fé vivida nas CEBs que percebo o verdadeiro rosto da Igreja: humilde, próxima, transformadora.
Neste contexto, a fé das CEBs desafia a Igreja a ser cada vez mais uma Igreja em saída, aberta ao diálogo, à escuta e à ação transformadora, conforme propõe o pontificado do Papa Francisco. A experiência dessas comunidades mostra que a fé vivida em solidariedade e compromisso social é capaz de gerar uma esperança firme, que resiste às adversidades e se abre a novos horizontes. Assim, o testemunho das CEBs se configura como um convite para que toda a Igreja se renove na prática da fé encarnada, assumindo seu papel profético e missionário no tempo presente.
REFERÊNCIAS
BETTO, Frei. Catecismo popular. São Paulo: Ática, 1991.
FRANCISCO, Papa. Spes non confundit: bula de proclamação do Ano Jubilar Ordinário de 2025. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2023. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/documents/apost_constitutions/documents/papa-francesco_apc_20230629_spes-non-confundit.html. Acesso em: 19 maio 2025.
Documento de Aparecida: documento conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe. São Paulo: Paulinas, 2007.
FRANCISCO, Papa. Evangelii Gaudium: exortação apostólica sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulinas, 2014. Coleção n. 198.

SPES NON CONFUNDIT: A PARÓQUIA COMO SINAL DE ESPERANÇA
NO ANO JUBILAR DE 2025.
RESUMO
Na Spes Non Confundit, Papa Francisco proclama a abertura do ano jubilar de 2025, expressando os direcionamentos que pautam este ano e as realidades a serem vivenciadas nas comunidades e paróquias. O ano jubilar ocorre a cada 25 anos e cada jubileu carrega consigo um tema que é pertinente para a vida cristã. O presente trabalho tem como base a bula de proclamação do ano da esperança, na qual se pode destacar diversas características que podem ser vivenciadas dentro das paróquias em variados âmbitos. Essa comunicação tem como objetivo apresentar uma possível relação da paróquia – trabalhos, ações pastorais – com aquilo que é proposto para se viver no ano jubilar, e mostrar a paróquia como sinal de esperança nos meios caritativos, como no auxílio aos pobres e a valorização da dignidade humana. Assim, a paróquia não é apenas uma estrutura administrativa, mas uma comunidade viva e dinâmica que celebra, evangeliza e serve. Neste tempo jubilar, ela é chamada a ser rosto visível de uma Igreja esperançosa, comprometida com a transformação do mundo à luz do Evangelho. É um trabalho bibliográfico de caráter interpretativo que tem como base a bula de proclamação do jubileu da esperança e das vivências pastorais do povo dentro da paróquia, sendo essa um sinal do jubileu por colocar em prática aquilo que o documento aconselho como serviços caritativos aos mais pobres, movimentos que promovem a vida e a sua dignidade, trazendo uma forte contribuição para a construção de um olhar mais sensível as pessoas menos assistidas.
Palavras-chave: Caridade. Esperança. Paróquia.
1 INTRODUÇÃO
No documento Spes Non Confundit, o Papa Francisco proclama a abertura do Ano Jubilar de 2025, apontando para a esperança como tema central e orientador das vivências e reflexões da Igreja neste tempo especial de graça. O jubileu é uma tradição da Igreja que remonta ao Antigo Testamento e que, no cristianismo, ganhou contornos próprios a partir da proclamação do primeiro jubileu em 1300. Realizado a cada 25 anos, esse evento oferece à Igreja e aos fiéis a oportunidade de renovação espiritual, reconciliação e engajamento com as necessidades do mundo à luz do Evangelho.
A tradição jubilar, resgatada e atualizada ao longo dos séculos, carrega em si um profundo significado teológico: é um tempo de “retorno ao essencial”, de reavivar a centralidade de Deus na vida humana e de promover a justiça, a misericórdia e a fraternidade entre os povos. Assim, o jubileu não é apenas um evento celebrativo, mas um itinerário de conversão pessoal e comunitária.
Diante desse contexto, esta comunicação tem como objetivo refletir sobre a relação entre a vida paroquial e as diretrizes propostas pelo jubileu da esperança, destacando como a paróquia pode se tornar um sinal visível de esperança por meio de suas ações caritativas, pastorais e evangelizadoras. A partir de uma leitura interpretativa da bula jubilar e das práticas já presentes no cotidiano das comunidades, busca-se demonstrar como as paróquias, mais do que estruturas administrativas, são comunidades vivas, dinâmicas e comprometidas com a transformação social e espiritual de seu entorno.
Em sintonia com o ensinamento do Concílio Vaticano II, especialmente com a Lumen Gentium e a Gaudium et Spes, reafirma-se que a paróquia é chamada a viver em diálogo constante com o mundo, respondendo com criatividade e fidelidade evangélica aos desafios contemporâneos.
2O ANO JUBILAR E A BULA SPES NON CONFUNDIT
O Ano Jubilar é um tempo especial no qual a Igreja convida seus fiéis à conversão, à vivência mais profunda da fé e à prática intensa da misericórdia. A bula Spes Non Confundit (A esperança não decepciona), título que remete à Carta aos Romanos (Rm 5,5), é o documento oficial que proclama o jubileu de 2025 e oferece orientações espirituais e pastorais para sua vivência.
Nesse documento, o Papa Francisco destaca que, em um mundo marcado por crises — guerras, exclusão social, degradação ambiental e perda do sentido de vida —, a esperança cristã se apresenta como uma força renovadora. A esperança não é uma espera passiva, mas um impulso para agir, transformar e anunciar o Reino de Deus já presente no meio de nós. Nesse sentido, o jubileu é uma convocação para que cada fiel, comunidade e paróquia sejam instrumentos de esperança, traduzida em gestos concretos de misericórdia, justiça e amor.
O Papa retoma a centralidade da esperança como virtude teologal que sustenta a caminhada dos fiéis em meio às tribulações do tempo presente. Ele convoca toda a Igreja a viver esse tempo como uma peregrinação interior, rumo à profundidade do mistério da fé, e como um tempo de abertura ao outro, especialmente aos descartados e esquecidos da sociedade.
Além disso, o pontífice enfatiza que o Ano Santo deve ser vivenciado em todas as dimensões da existência cristã: litúrgica, pastoral, social e ecológica. Há, portanto, uma chamada explícita a integrar o cuidado com a criação como parte da vivência esperançosa, num espírito de conversão ecológica conforme proposto na encíclica Laudato Si.
A bula convida a Igreja a uma abertura ao mundo, especialmente aos mais vulneráveis. Ela destaca a importância da caridade, do perdão, da solidariedade e da promoção da dignidade humana como elementos centrais para a vivência jubilar. É neste ponto que a paróquia assume um papel fundamental como mediadora dessa esperança na realidade local.
3 A PARÓQUIA COMO COMUNIDADE VIVA E DINÂMICA
As paróquias são o coração pulsante da vida da Igreja em nível local. São nelas que os fiéis vivem a fé cotidianamente, celebram os sacramentos, participam da vida comunitária e se comprometem com ações pastorais e sociais. Na perspectiva do Papa Francisco, expressa também em outros documentos como Evangelii Gaudium, a paróquia precisa ser “próxima, missionária, aberta e inclusiva”. No contexto do jubileu, essa missão ganha ainda mais sentido: é através das paróquias que o anúncio da esperança se concretiza em gestos de caridade, acolhimento e transformação.
Ao viver o jubileu, a paróquia é chamada a renovar sua identidade e ação, voltando-se com mais intensidade para os pobres, os marginalizados e os que sofrem. Os serviços de assistência social, as pastorais da saúde, da criança, da caridade, os grupos de visitação e os projetos de inclusão social são formas concretas de tornar visível o rosto misericordioso da Igreja. A paróquia, então, torna-se um espaço onde a esperança é praticada e não apenas anunciada.
Outro ponto fundamental é o papel da formação cristã dentro da paróquia. A catequese, os grupos de jovens, os círculos bíblicos e as escolas de fé ajudam os fiéis a compreenderem o sentido profundo do jubileu e a traduzir a fé em atitudes. O jubileu, nesse sentido, pode ser um catalisador para a revitalização pastoral, onde os carismas da comunidade são colocados a serviço do bem comum. A paróquia jubilar, portanto, é uma Igreja “em saída”, como propõe o Papa, que rompe com o fechamento autorreferencial e se lança em missão permanente, encarnando a esperança em cada gesto de serviço, escuta e presença solidária.
4 A CARIDADE COMO EXPRESSÃO DA ESPERANÇA
A caridade é uma das principais expressões da esperança cristã. No jubileu de 2025, o Papa Francisco insiste na necessidade de uma Igreja comprometida com os pobres e com os que sofrem. A paróquia, enquanto expressão concreta da Igreja local, deve fazer da caridade uma de suas marcas distintivas.
Isso significa ir além da assistência pontual e desenvolver ações contínuas de solidariedade. Projetos como cozinhas comunitárias, centros de acolhimento, iniciativas de geração de renda, ações de escuta e apoio psicológico, além do engajamento em causas de justiça social, são formas concretas de viver a esperança no cotidiano. A paróquia deve ser presença consoladora nas periferias geográficas e existenciais, como exorta o Papa.
A caridade, no entanto, não pode ser desvinculada da promoção da dignidade humana. Toda ação pastoral deve visar a libertação integral da pessoa, oferecendo não apenas ajuda material, mas reconhecimento, valorização e inclusão. O Ano Jubilar é um convite para reforçar essa dimensão libertadora da caridade. Além disso, é importante considerar a articulação entre caridade e evangelização: a ação social da Igreja deve ser expressão da sua fé, e não simples filantropia. A caridade cristã brota da experiência do amor de Deus e busca conduzir os outros a esse mesmo encontro, tornando-se, assim, instrumento de transformação pessoal e comunitária.
Nesse horizonte, a paróquia se apresenta como uma verdadeira “casa da caridade”, onde cada iniciativa é orientada pela lógica do dom e da comunhão fraterna, superando toda forma de indiferença ou assistencialismo superficial.
5 CONCLUSÃO
O Ano Jubilar de 2025, proclamado pela bula Spes Non Confundit, é um forte apelo à vivência da esperança como virtude ativa e transformadora. Em um mundo ferido por tantas formas de sofrimento e desesperança, a Igreja é chamada a ser sinal de uma esperança que não decepciona, porque se enraíza no amor de Deus e se expressa no cuidado com o próximo.
Neste cenário, a paróquia é convocada a ser o rosto visível dessa esperança. Por meio de suas ações pastorais, seus serviços caritativos, sua escuta atenta e sua presença constante junto aos mais necessitados, ela se torna sinal vivo do jubileu. Assim, reafirma-se que a paróquia não é apenas um espaço de celebração litúrgica, mas uma verdadeira comunidade missionária, comprometida com a vida e a dignidade de todos.
A vivência do jubileu de 2025 é, portanto, uma oportunidade única para renovar a identidade e a missão da paróquia, colocando-a a serviço do Reino de Deus como lugar de acolhimento, fraternidade, solidariedade e, sobretudo, de esperança. Que cada comunidade paroquial se deixe conduzir pelo Espírito Santo nesse caminho de renovação, e que o Ano Santo seja ocasião para abrir novos horizontes de fé, de justiça e de paz, tornando cada paróquia um farol de esperança no mundo.
REFERÊNCIAS
FRANCISCO, Papa. Spes non confundit: bula de proclamação do Jubileu Ordinário de 2025. Cidade do Vaticano: Vaticano, 2024. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/apost_letters/documents/20240509_spes-non-confundit.html. Acesso em: 18 maio 2025.